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domingo, 5 de dezembro de 2010

Seven - Os Sete Crimes Capitais

Por Marcelo Cypriano / Fotos: New Line/Divulgação



Antes de tudo, alguns avisos: “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (Seven – Estados Unidos – 1995) não é um filme para todo tipo de público. Crianças, fora. Adultos mais sensíveis, idem. Uma das melhores produções de suspense dos últimos anos foi uma surpresa para a crítica e o público, sempre citado nas listas de filmes mais assustadores do cinema. “Seven” é violento, pesado, opressivo e até grotesco em algumas cenas, pedindo estômago forte do espectador. Mostra um pouco do pior que existe no ser humano. Não espere os clichês dos filmes policiais hollywoodianos, embora eles até existam um pouco na trama. Definitivamente, não é mais um filme fácil, que mostra só o que o público quer ver. O incômodo faz parte do recado que a história quer deixar.



Com os devidos avisos dados, o que um filme assim faz no canal Mundo Cristão de nosso portal? Antes que alguém pense em criticar, “Seven” mostra até que ponto o homem pode chegar quando cede completamente ao pecado, sem a orientação de Deus em sua vida. É exatamente neste ponto em que se baseia um assassino serial que faz a polícia de Los Angeles fundir seus cérebros tentando desvendar seus crimes. John Doe (nome usado na cultura norte-americana quando não se sabe a verdadeira identidade de alguém, como os nossos “Fulano de Tal” ou “Zé Ninguém”) não deixa rastros, mas deixa pistas intencionais que somente um investigador bastante perspicaz poderia decifrar. É aí que entra um dos melhores atores de sua geração, Morgan Freeman, no papel do detetive de polícia William Somerset, ajudado pelo jovem, impetuoso e inexperiente colega David Mills (Brad Pitt), recém-chegado à cidade.



John Doe baseia seus crimes nos sete pecados capitais (ou mortais): gula, cobiça, preguiça, luxúria, vaidade, inveja e ira. Escolhe a dedo alguém cujo estilo de vida seja regido por um pecado em especial e o usa na própria execução do crime. Meticuloso, só deixa a polícia saber o que ele quer que ela saiba. Somerset e Mills corem contra o tempo, a fim de impedir mais crimes. Mas Doe está sempre vários passos à frente.



David Fincher, revelado ao grande público na direção deste filme, mostra justamente o lado obscuro da mente de um assassino serial que, do seu jeito estranho e mórbido, critica as pessoas que se rendem ao pecado. Psicopata que é, John Doe mata uma pessoa por dia. Começa a fazer isso quando Somerset está a exatamente sete dias de sua aposentadoria e tem que administrar não só a investigação, como também a parceria com o quase novato Mills, oriundo de uma pacata cidade interiorana e ainda cheio de ilusões. Os parceiros, bastante diferentes, têm de se afinar para que o trabalho seja realizado.



Andrew Kevin Walker, o roteirista de “Seven”, tem uma queda para o mórbido, também tendo escrito o parecido (porém bem aquém em qualidade) “8 Milímetros” e o mais recente “O Lobisomem”. Ele e Fincher mostram grande sintonia em passar para o público o estranhamento em todos os detalhes. Nada em “Seven” é bonito. Nada em “Seven” é agradável. O grotesco está em tudo: nos cenários gastos e sujos, na iluminação lúgrube e sempre insuficiente, na trilha sonora, no figurino e até mesmo nos caracteres dos créditos iniciais e finais. A Los Angeles do filme está bem longe do estereótipo de cidade ensolarada de outras produções, mais parecida com os becos imundos de alguns bairros de Nova York nos dias chuvosos. Tudo isso junto cria uma atmosfera cáustica que incomoda, levando o espectador a entrar no “clima” da morbidez, ao mesmo tempo em que tenta desvendar os crimes com a dupla de investigadores mal pagos e mal vestidos.



Walker fez uma grande pesquisa sobre o modo de agir de um psicopata criminoso. A psicopatia consiste na ausência de empatia para com as outras pessoas, às vezes violando até mesmo as normas sociais, pois eles não se importam com o próximo e o que ele sente. Um psicopata, incapaz de sentir emoções, usa as pessoas para satisfazer suas necessidades sem o menor arrependimento. Geralmente mostram-se charmosos e carismáticos, até sedutores, mas é tudo puro fingimento para atrair as vítimas para as suas armadilhas. E isso requer tempo, planejamento e competência para seguir os planos traçados.



Nesse clima profundamente incômodo, a equipe do filme leva o público a pensar no lado desagradável do pecado (no qual quase ninguém pensa antes de cometê-lo, só vendo a parte que parece boa) e vão acontecendo, um a um, os crimes. John Doe deixa claro que pesquisou muito e acompanhou os passos das vítimas em minúcias, para então perpetrar seus assassinatos. Não vamos entrar aqui em maiores detalhes, pois as surpresas são o que o filme tem de melhor em seu bem amarrado roteiro.



Gula – A cena do crime é um mal iluminado apartamento que faz muito cortiço parecer condomínio de luxo. A vítima, que cedia ao incontrolável desejo por comida, é o próprio retrato do pecado que simboliza (como quase todas as outras vítimas do filme). Doe deixa uma frase do escritor John Milton, de seu livro “Paraíso Perdido”: “É longo e difícil o caminho que do Inferno leva à luz”. Uma vez entregue ao pecado, sair dele não é tão fácil quanto parece.



Cobiça – O assassino armou toda a cena do crime como um antigo sacrifício para remissão dos pecados. A vítima era conhecida por fazer qualquer coisa por dinheiro, mesmo que pessoas saíssem prejudicadas. Outro trecho de um escritor famoso deixado por Doe na cena, desta vez de autoria de William Shakespeare, em “O Mercador de Veneza”: “Uma libra de carne. Nem mais, nem menos. Sem cartilagem, sem osso, só carne. Cumprida esta tarefa ele estaria livre”. Somerset percebe que está à caça de um assassino sequencial do pior tipo – o organizado –, que planeja cada aspecto com infalível precisão e, neste caso, quer deixar mensagens com seus atos. O sadismo levado às últimas consequências impressiona o veterano policial, que começa a temer pelo que ainda virá. Novamente o espectador é levado a pensar se “os fins justificam os meios”.



Preguiça – Um dos crimes mais assustadores do filme não teria o menor sentido se a própria vítima não participasse tanto dele. Este crime, em especial, espanta mais ainda Somerset quanto ao grau de meticulosidade, paciência e frieza do criminoso. Entra a figura do fanatismo religioso.



Luxúria – Mais de uma vítima em um ambiente frequentado por apreciadores de sexualidade extrema, lascívia e submissão desmedida aos prazeres carnais. Entra a figura, como Somerset explica a Mills, do controle dos desejos. O detetive deixa bem claro que desejos descontrolados levam à ruína. O roteirista usa o policial para falar também da popular escolha pelo caminho mais fácil, com muitas armadilhas, algo que o próprio Jesus Cristo ensinou milhares de anos antes do filme de Fincher: “Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” (Mateus 7: 13-14)



Vaidade – À vítima, são deixadas por John Doe duas escolhas: viver e procurar a superação de uma dificuldade ao ficar sem algo que idolatrava ou se entregar à morte de vez. A idolatria consiste em achar que não é possível viver sem determinada coisa ou pessoa, lugar que pertence somente a Deus.



Inveja e Ira – O assassino deixa bem claro, nos dois últimos crimes, que são o cúmulo da manipulação, que o pecado se volta contra o próprio pecador. “Todos nós vemos um pecado em cada esquina, em cada lar. Nós toleramos porque é uma coisa comum”, revela. Com isso, Doe se “justifica” em sua mórbida e autodesignada “missão”, pois alega que o mundo não distingue ou não se lembra mais do que é pecado e do que não é.



A última citação de um escritor famoso na trama não é feita por John Doe. É Somerset que a profere. Mas se o leitor quiser saber qual é, vai ter que assistir ao filme e tirar suas próprias conclusões, pensando em suas lições, que, sem o choque que causam, não fariam tanto efeito.





FONTE: ARCA UNIVERSAL

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