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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ana Paula Neves

Por Elliana Garcia / Foto: Demetrio Koch




Desde criança a paulistana Ana Paula Neves, de 33 anos, apresentadora do quadro “Superação” do programa Hoje em Dia, da Rede Record, queria mudar o mundo. E a profissão que tinha mais similaridade com seus anseios era o Jornalismo, onde ela poderia reivindicar direitos e ser um canal entre a sociedade e os meios públicos. Reconhecida como uma das melhores repórteres da nova geração, Ana sabe aliar talento e simplicidade e divide com os leitores do Arca Universal as emoções e os aprendizados de cada reportagem que fez.



Como surgiu o desejo de ser jornalista?



Desde a infância, sempre fui engajada em causas que trouxessem benefícios para as pessoas. Por exemplo, eu mexia com reciclagem quando ninguém pensava nesse assunto. Tomava a frente para resolver coisas entre as crianças, no meu prédio, no bairro e aí percebi que teria que ter uma profissão onde pudesse juntar tudo isso e ajudar as pessoas. Por isso escolhi o jornalismo. Se qualquer cidadão de outra profissão tenta falar com qualquer órgão público ou privado, recebe um determinado tratamento. Quando é o jornalista, o tratamento é diferente. Podemos ser porta-vozes das pessoas para interpretar essa necessidade da sociedade e fazer com que as autoridades nos ouçam.



Você fez uma ampla cobertura do caso Nardoni, que chocou o nosso país. A sua rotina de trabalho era intensa? Como você separa a emoção do profissionalismo em casos assim?



Na época do caso Nardoni, em março de 2008, eu chegava à tevê às 5 horas da manhã e às 6h30 já estava no ar. Ia para a Delegacia e ficava até o último jornal da tarde, depois fazia outra matéria para o jornal da noite e voltava para o estúdio para apresentar o Telejornal na Record Internacional. Ficava entre 10 a 11 horas por dia no trabalho. E você sabe que a gente não se desliga nunca, precisa ficar todo o tempo em contato com as fontes, para ter informações em primeira mão para o público. Na delegacia era uma loucura, porque são muitas informações técnicas e a gente tem que se ater a isso. A emoção ficou mais aflorada quando o caso já estava mais definido. Claro que é difícil segurar a emoção, mas eu nunca chorei em nenhuma matéria. No momento em que estou trabalhando, eu nunca choro. Meu sentimento para ali. Eu choro depois, em casa, no carro, mas na hora propriamente dita, eu tento segurar as emoções.



Depois de qual matéria, então, você chorou?



Chorei muito depois que entrevistei a mãe da Isabella Nardoni, a Ana Carolina. Mesmo não sendo mãe, você sente o que é perder um filho e é impossível não se solidarizar. A questão não era quem tinha cometido o crime, e sim, como a mãe sentia a perda da filha, a falta que ela deixou e saudade do que ela nem tinha vivido com a Isabella. Foi emocionante demais.



Qual a matéria inesquecível?



As matérias são como filhos. Todas têm algo a acrescentar. O jornalismo é uma profissão apaixonante e o aprendizado que cada matéria nos traz é muito importante. Há pouco tempo, fizemos uma reportagem sobre o filme “City Down, a história de um diferente”, onde uma família recebe a notícia de que terá um bebê que nascerá sem a doença, em uma cidade onde todos são portadores da síndrome. Então, o diferente é o bebê que está chegando. Há uma inversão de papéis. Foi uma história muito bonita; entrevistei os atores, que até então eram conhecidos como portadores da síndrome, que tinham limitações que todo mundo conhece e que nem almejavam algo mais. Com esse filme, eles tornaram-se astros da cidade, atores de cinema. Essa questão da síndrome, da inclusão, de se colocar no lugar de outras pessoas e respeitar qualquer diferença, são muito bacanas. Pois, se todos nós fôssemos iguais, o mundo seria muito chato. O que é fascinante é essa diferença. Aí sim, existe uma troca e amadurecimento.



No programa Hoje em Dia, você apresenta a série “Superação” com histórias de pessoas comuns que conseguiram superar obstáculos e realizar seus sonhos. Qual a história que mais te impactou?



Cada história é única e todos nós somos exemplos de superação. Mas, quando existe, além da dificuldade que a vida nos traz, alguma limitação ou deficiência física, é muito mais difícil. Uma coisa é você enfrentar algo com todos os seus sentidos em perfeito estado, outra, é não ter isso e enfrentar a vida. Emocionei-me demais com a história da Geysa, a bailarina cega. Uma menina como tantas crianças que morava no interior de Pernambuco e que, aos 8 anos, enquanto passava pelo meio dos pombos, ao vê-los voar, não imaginou que a brincadeira pudesse quase custar-lhe a vida. Nesse momento de brincadeira ela foi contaminada por um fungo presente nas fezes nos pombos. Esse fungo entrou no corpo dela através da respiração e se alojou em seus olhos. A mãe dela foi para São Paulo em busca de tratamento e através de uma médica ficou sabendo do diagnóstico: que a filha havia ficado cega por conta de bactérias causadas pelas fezes dos pombos. A garota foi para um instituto de cegos e aprendeu a ler em braile, e lá uma professora voluntária de outra matéria ensinou balé à menina. Hoje, Geysa é uma bailarina incrível com apresentações internacionais e foi convidada para fazer um curso em Nova York. Como uma pessoa cega pode saber quais os movimentos corretos do balé e dançar com uma leveza impressionante? Pois é, a Geysa conseguiu e, além de profissional, ela ensina essa arte para outras garotas cegas.



Como é a recepção do público em relação ao seu trabalho?



É muito legal. E com essa série “Superação” a recepção é muito maior. Essa série foi ideia do nosso diretor Bruno Gomes. E as histórias são lições de vida, afinal, estamos no mundo para aprender. Tem gente em casa que sofreu algo banal, e por menor que seja a dor que ela está sentindo, é a dor dela. E quando ela vê histórias de pessoas que conseguiram ultrapassar obstáculos maiores, com certeza ela se sentirá fortalecida. Aprendi com essas histórias que todos nós temos o direito de sermos felizes cada vez mais e o dever de agradecer a Deus todos os dias pelo bem maior que é a nossa vida. A vida é uma bênção e um presente. Por que não usufruir desse presente cada vez mais?



Que mensagem você deixa para os nossos leitores?




Eu deixo o recado que eu levo para a minha vida. O de querer tornar-se alguém melhor a cada dia. Esse tem que ser o nosso propósito. Hoje, quero ser melhor do que fui ontem. Esse melhor é no sentido de respeitar o próximo, de ser melhor no trabalho, mais comprometido, melhor com os colegas e com os outros na rua. Sou muito alegre, feliz, e o meu objetivo é me tornar um ser humano melhor a cada. Se todo mundo tiver esse compromisso, tudo flui. No mais, é valorizar o que temos e focar no que queremos.

FONTE: ARCA UNIVERSAL

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