Numa crítica em que comparei as personagens de Lilia Cabral e Cássia Kis Magro, na semana passada, disse que, apesar da temática comum (a mãe rejeitada pelo filho), Griselda, interpretada por Lilia em “Fina estampa”, era bem diferente da Dulce, papel de Cássia em “Morde & assopra”. Escrevi: “A Dulce de Walcyr — um excelente trabalho da atriz — é ingênua, derrotada e seu filho, um mentiroso, passou longe da universidade. Há algo de infantil naquela trama, que, afinal, é própria das 19h.” Motivada por essa crítica, Cássia me escreveu uma carta em que diz que, para compor a personagem, se inspirou num livro de Jorge Luis Borges escrito a partir de aulas que ele deu na Universidade de Belgrano, “Borges oral e sete noites” (ela mandou um exemplar junto com a carta).
Cássia defende Dulce, que define como uma “mulher rara, humilde, simples, corajosa, vitoriosa, digna, sofrida, lutadora (a tradução pura da mulher brasileira), porém e acima de tudo, feliz”. E ainda: “Dona absoluta de sentimentos nobres, emocionantes e impressionantes num país assolado pela mentira, corrupção, vaidade, ganância, miséria, desumanidade... Dulce é velha, desmanchada pelo tempo, retrato de milhares de Dulces, ouso dizer, não apenas no Brasil.” Cássia diz que tem fé que eu, em tempo, veja a personagem da mesma maneira que ela. É uma visão que faz muito sentido e não descarto essa possibilidade. Até porque, se tivesse usado mais adjetivos naquele texto, muitos deles coincidiriam com os que Cássia usa.
Mesmo assim, não posso deixar de ver na personagem traços de ingenuidade, resignação e derrota diante daquilo que ela sonhou. Não estou reproduzindo trechos da carta para polemizar. Minha ideia é só dividir com os leitores o fato de que nenhuma atriz conseguiria o desempenho incrível que Cássia vem mostrando sem esta sua entrega total à personagem e sem estudar tanto. Não é surpresa. A carta mostra que tipo de atriz ela é. E também as razões do seu sucesso
FONTE: PATRICIA KOGUT
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