Por Débora Ferreira / Fotos: Divulgação
Filho de Antônio Maurício de Sousa, poeta e barbeiro, e Petronilha Araújo de Sousa, poetisa, o desenhista mais famoso do Brasil nasceu em outubro de 1935 em uma pequena cidade do estado de São Paulo, chamada Santa Isabel. Com poucos meses, ele foi levado pela família para Mogi das Cruzes (SP), onde passou parte da vida.
Como foi sua infância?
Tive uma infância maravilhosa. Pais carinhosos e sensíveis, irmãos e parentes alegres, colegas de diferentes etnias e ricos em personalidade. Além disso, uma rua inteira de terra para brincar. O que mais poderia querer? Foi tão bom que estou esticando essa infância até hoje. E minhas historinhas espelham tudo o que vivi nessa época de ouro.
Como aconteceu o seu primeiro contato com o desenho profissional?
Minha primeira tira publicada foi com os personagens Bidu e Franjinha, na Folha da Manhã, em junho de 1959, depois de 5 anos trabalhando no jornal como repórter policial. Mas o desenho era meu objetivo. Desde que publiquei minhas primeiras ilustrações em jornais de Mogi das Cruzes (SP), de onde eu viera. Assim, posso considerar que minha carreira profissional como desenhista começou com essa pequena tira do Bidu.
Quantas publicações (em média) você já tem?
Depois de uma pequena experiência com a publicação de alguns poucos números de uma revista chamada Bidu, lançada em 1961, esperei 10 anos para lançar a revista Mônica, em 1970. Hoje, em média, lançamos 10 revistas periódicas por mês, fora almanaques com republicações e revistas especiais, isso dá um total de 16 revistas.
Essa revista Mônica tem um histórico de 500 exemplares lançados até hoje. E em alguns países, como Indonésia, por exemplo, a "Monika" já está chegando aos 150 exemplares publicados. Com isso, se somarmos tiragens nacionais e internacionais devemos ter passado de 1 bilhão de revistas lançadas até hoje.
Você começou com o Bidu e Franjinha. Hoje em dia, são quantos personagens?
Não tenho a conta fechada, pois sempre estamos criando diversos personagens secundários para as histórias e que às vezes se transformam em principais. Mas os que tiveram continuidade chegam aos 200.
Qual o número de profissionais que trabalha na sua equipe?
Se contarmos com a área de animação já somos cerca de 200. E precisamos ampliar esse número.
Como é feito hoje o processo de produção de um gibi e como era antes?
Antes só tínhamos o processo manual para desenhar. Hoje temos a produção digital. Utilizamos diversas técnicas e formas para cada setor de produção. Temos a preocupação de acompanhar o desenvolvimento da tecnologia como ferramenta maravilhosa para nossos trabalhos.
Você ainda desenha pessoalmente os gibis e demais produtos ou tem ajuda? Caso sim, como faz para recrutar desenhistas com traços tão parecidos com os seus, já que o traço é algo muito pessoal?
Quando sobra um tempinho eu rabisco alguma historinha. Mas reviso todos os roteiros e acompanho a produção das cerca de 1.200 páginas de quadrinhos por mês.
Em relação aos novos desenhistas, hoje eles já chegam prontos. Conhecem bem nossos personagens e nossas historinhas. No começo é que foi difícil, pois cada um que entrava tinha que prepará-lo como numa escolinha.
Você tem algum desenhista como inspiração?
Tive grandes mestres dos quadrinhos na base da minha formação. No campo internacional, o Will Eisner, que tive a honra de ter como amigo. No Brasil, sempre admirei a arte de Jayme Cortez e tive a sorte de tê-lo trabalhando comigo.
A lista completa das minhas referências está no livro do Sidney Gusman "Quadrinho a Quadrinho".
Costuma ler quadrinhos? Quais?
Depois de dar uma passada de olhos em novidades que estejam nas bancas ou livrarias, tenho me firmado mais nos autores brasileiros. Alguns dos quais estão participando dos especiais MSP50. Todos desenham alguma história a sua maneira, utilizando os personagens da Turma da Mônica nos seus estilos. Já são 100 autores publicados e mais 50 que estarão no próximo MSP+50 a ser lançado na Bienal do Livro de agosto deste ano. O Sidney Gusman, editor dessas coletâneas, me informa sobre todos esses estilos e novos desenhistas que estão surgindo no mercado. Cada dia fico mais alegre de ver tanta diversidade com qualidade.
A Turma da Mônica está em outros países? Quais?
Hoje publicamos em torno de 50 países. A relação é grande, mas entre eles está a China, Itália, França, Portugal, Angola e até o Vietnã.
A Turma da Mônica é famosa por trazer para crianças assuntos polêmicos, de uma forma muito bem elaborada, como o personagem autista e personagem filho de pais separados. Para abordar tais temas você faz pesquisa ou consulta profissionais (terapeutas e médicos) para acertar na abordagem?
Sem dúvida temos que ter muita atenção para colocar algum novo personagem nas histórias da turminha. Nos casos de personagens com cuidados especiais, então, essa responsabilidade é redobrada. Fazemos muita pesquisa tanto com ONGs da área como nas crianças que vivem esse problema.
Qual a dica que você dá para quem quer levar o desenho como profissão?
Em primeiro lugar é gostar do que faz. Depois é muito trabalho e paciência. Para completar é preciso ter consciência de que sempre devemos aprender e aprimorar nosso trabalho.
FONTE: ARCA UNIVERSAL
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