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terça-feira, 29 de março de 2011

Entrevista com André Tal


Por Elliana Garcia

Jornalista, 33 anos de idade e repórter há 12. Vencedor do Prêmio Esso de Telejornalismo em 2008, com a reportagem “Dossiê Roraima: Pedofilia no Poder”, André Tal é correspondente da Rede Record na Ásia. Há poucas semanas ele presenciou o forte terremoto seguido de tsunami que devastou o Japão. Na primeira entrevista concedida após presenciar a tragédia, André fala com exclusividade ao Portal Arca Universalsobre a maior catástrofe natural que atingiu o país asiático e quais as lições e exemplos que tira diante de um cenário de tanta dor.
Conte-nos o que sentiu durante o terremoto que atingiu o Japão, no dia 11 de março.
Durante o terremoto, eu estava gravando com a minha equipe e foi um susto muito grande. Nunca tinha sentido a terra tremer. Minha mulher, que estava em Tóquio, me ligou desesperada e eu tentava ao mesmo tempo acalmá-la e seguir gravando a reação das pessoas. Não foi fácil.
Você teve de acalmar a sua esposa. Em algum momento de sua profissão houve algum tipo de conflito entre a sua vida familiar e profissional?
Esse é um momento em que a vida se tornou perigosa. A família fica muito preocupada. Amigos pedem que a gente abandone o país. Mas temos que seguir firmes na cobertura. O perigo da radiação atrapalhou as gravações. Tivemos que abandonar as áreas atingidas pelo tsunami para fugir da área de risco. Isso é frustrante, porque queria continuar o trabalho lá, mas não poderia me expor à radiação, nem expor a equipe a qualquer tipo de perigo.
Qual a visão mais chocante que você teve?
São cenas estarrecedoras. A do navio arrastado por mais de 1 quilômetro me impressionou muito. É difícil imaginar como isso aconteceu. Impressionante. As cenas que presenciei no Norte do país não se comparam a nada que eu já vi em 12 anos de carreira. Cidades inteiras devastadas. Centenas de carros revirados, milhares de casas destruídas e até navios arrastados por ondas gigantes para áreas residenciais. Acho que dificilmente vou ver algo parecido na minha vida.
Mesmo diante de tanta dor, deu para enxergar esperança em algum momento? 
Muita esperança. É um povo que não se entrega, mesmo depois de tantas tragédias. Os japoneses devem ser vistos como exemplo para todos nós em qualquer situação da vida. Eles sabem que sofreram, que tiveram perdas, mas não dá para ficarem prostrados. É preciso encher-se de coragem e começar a reconstrução.
A todo instante víamos as suas matérias aqui no Brasil e há a questão da diferença de horário. Fale- nos desse ritmo intenso de trabalho.
Quase não tive tempo para dormir e, muitas vezes, para comer. Trabalhava o dia inteiro, depois acordava na madrugada para gravar off e conversar com os editores em São Paulo. O ritmo alucinante continua. Estou trabalhando no piloto automático. A adrenalina me mantém acordado e motivado. Nesses momentos, a gente percebe que o nosso limite vai muito além do que imaginávamos.
Qual o momento mais crítico que você enfrentou?
Na primeira noite depois do terremoto, a caminho do Norte, chegamos a uma cidade onde não havia comida, água e hotel. Passamos a noite numa parada de ônibus. Fiquei algumas horas agachado num banheiro público, único lugar onde conseguia carregar meu computador, gerando arquivos de imagens pela internet. No outro dia, sem dormir, tinha que estar muito disposto para gravar tudo. Mas vendo o que as vítimas estavam passando, eu sentia que o meu sofrimento era mínimo.
Você chegou a ter medo?
Claro que senti medo. Toda vez que a terra treme, eu sinto. O medo é importante, porque nos faz impor limites e diminuir os riscos. Senão, poderia estar contaminado pela radiação, por exemplo. Tomei decisões difíceis todos os dias, tentando conseguir a melhor matéria, mas sem fazer papel de herói.
Tem algo a acrescentar aos nossos internautas?
Queria dizer que saio dessa cobertura fortalecido, mais experiente e preparado para tudo, na vida pessoal e profissional. E tenho certeza que esse país (Japão) vai se reerguer.
FONTE: ARCA UNIVERSAL

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