Por Marcelo Cypriano
O vale do rio Jordão, na fronteira entre Israel e Jordânia (cujo nome vem do famoso curso d’água), é frequentemente citado na Bíblia, tanto no Antigo Testamento (175 vezes) quanto no Novo Testamento (15 vezes).
Foi olhando o fértil e irrigado vale ao longe, que Abraão e Ló combinaram a partilha das terras em Gênesis 13. Às margens do rio Jaboque, um afluente do Jordão, Jacó lutou com um misterioso homem (um anjo) até que este o abençoasse, em Gênesis 32, mudando seu nome para Israel (“o que luta com Deus”, embora outras traduções mostrem “o que luta e vence” ou “o que reina com Deus”). Mais tarde, os profetas Elias e Eliseu atuavam em ambas as margens do rio.
Ao fim da peregrinação pelo deserto após saírem do Egito, os hebreus atravessaram o Jordão, cujas águas pararam e se abriram (Josué 3. 15-17) como no Mar Vermelho e chegaram à Terra Prometida. O próprio Jesus Cristo foi batizado em suas águas por seu primo, João Batista. A passagem pelo rio ganhou vários significados em várias culturas e suas derivadas por causa desses dois episódios. Para os judeus, lembra a conquista após longo e árduo caminho. Na tradição cristã, por exemplo, a expressão “cruzar o Jordão”, mais comum nos países de língua inglesa, (“crossing Jordan”) significa vencer a morte, baseada no batismo: o homem natural anterior morre, renascendo para Deus como nova criatura.
“Rio que desce”
A palavra Jordão deriva do hebraico yar-dane (“aquele que desce”, “descendente”). Bastante apropriado, pois suas quatro nascentes ficam na alta região do Monte Hermon, com as águas seguindo vale abaixo passando pelo Lago Huleh, pelo Mar da Galileia (na verdade um grande lago salgado, também conhecido como Lago Tiberíades), dele seguindo quase em linha reta por 105 quilômetros até o Mar Morto. Alguns estudiosos defendem a tradução “lugar em que se desce” (bebedouro).
Com mais de 200 quilômetros de comprimento, sua maior parte chega a ficar abaixo do nível do mar (até 390 metros) rumo à foz. Ele chega com água doce até o Mar da Galileia, tornando-se salgado a partir dele, levando ainda mais sal para o Mar Morto, onde termina. Conforme o trecho, sua profundidade varia entre 1 e 3 metros, e a largura chega a 30 metros em alguns lugares.
Morte anunciada
Contraditoriamente, o rio que representa “vencer a morte” está morrendo. Um recente relatório da organização não-governamental (ONG) Amigos da Terra do Oriente Médio (FoEME, na sigla original) está sendo devastado pela exploração da água, poluição e pouco caso das autoridades das comunidades à suas margens. Com o curso desviado para o abastecimento de água de várias localidades, o Baixo Jordão pode sumir até o final deste ano, segundo o documento do FoEME. Suas águas e as de seus afluentes são partilhadas por Israel, Jordânia, Síria e Cisjordânia.
A ONG relata que alguns quilômetros ao sul do Mar da Galileia, uma barragem corta abruptamente o rio. Depois da contenção, o esgoto é lançado diretamente no leito. A diminuição do fluxo de água aumenta ainda mais a salinidade. Israel trabalha atualmente em um projeto para e recuperação de um rio tão importante para vários países e culturas. Planos bem parecidos também estão em andamento por parte da Síria e da Jordânia. O desvio da água doce diminuiu consideravelmente a fertilidade das margens, e a biodiversidade caiu em 50%, segundo o FoEME.
FONTE: ARCA UNIVERSAL
Nenhum comentário:
Postar um comentário