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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Histórias de fé: "O andarilho sonhador"



Por Jaqueline Corrêa



Ele andava de rua em rua, parava em cada esquina, e em cada pessoa que esbarrava dizia desaforado: “Não tá me vendo não?!”
O nome dele é Antônio.
Antônio era um andarilho que vivia como uma visagem por aí. Ninguém o via, ninguém o olhava, ninguém sequer espichava a vista para o seu lado. Por isso ele desenvolveu uma maneira bem peculiar de enfrentar a solidão: criou personagens em sua cabeça para fingir que não era só.
O que diferenciava Antônio dos outros andarilhos é que ele tinha a capacidade de mudar o jeito de acordo com o que vinha à sua mente. Tempos atrás, por exemplo, andava dizendo que comprara um buquê de rosas vermelhas – ele fez questão de dizer que eram vermelhas, porque julgava serem as mais belas e românticas – para uma tal de Belinha. O problema é que Belinha era desaforada e jogou as rosas fora, porque não aceitava “presente de estranhos”. O andarilho jurava que os dois eram namorados, mas a moça sequer lembrava-se dele.
Antônio saiu por aí falando para todos na rua onde costumava ficar que Belinha era uma ingrata – bela, mas ingrata. “Como pode, não aceitar as minhas flores?”, ele reclamava indignado. Todos na rua sabiam que tanto Belinha quanto as rosas eram fruto da sua aflorada imaginação, mesmo assim, as pessoas fingiam acreditar, para que ele parasse de importunar.
Antônio era assim, sempre criando em sua cabeça personagens e histórias que acreditava serem reais. E levava tudo isso tão a sério que parecia crer em tudo o que pensava. Até que uma vez ele chegou dizendo que fora contratado por uma grande gravadora para gravar um CD. Logicamente, todos riam, principalmente quando ele forçava uma voz diferente e aveludada para cantar ‘Frank Sinatra’.
E assim, o andarilho foi seguindo seus dias, cantarolando e dizendo ser a voz revelação dos últimos tempos. Mas isso não agradava a todos. Havia sempre aquele dono do boteco que enxotava Antônio por estar fedido e maltrapilho. E sempre que isso acontecia, ele dizia: “Um dia você ainda vai me pedir autógrafo!”
Um dia, então, acreditando estar arrasando corações com a sua voz, Antônio recebeu um banho de água fria, literalmente. O dono do boteco jogou um balde cheio de água no andarilho, só para afastá-lo de perto do seu estabelecimento. O lugar não dava muita gente, mesmo assim, ele queria ter a calçada limpa e livre de qualquer perturbação. Mas Antônio respondeu novamente:
“Um dia você ainda vai me pedir autógrafo!”
Foi então que o andarilho saiu de novo pelo mundo e nunca mais fora visto.
Muitos anos depois, uma bela voz estoura nas paradas de sucesso da cidade, que logo toma conta do país inteiro. Nos programas de televisão, na internet e no rádio só se falava no cantor revelação. E até o dono do boteco na rua onde Antônio costumava ficar aderiu às belas canções do momento.

Até que, certa vez, um homem muito elegante entra no estabelecimento e pede uma xícara de café. O dono do boteco fica lisonjeado com o freguês, que aparenta ser bem requintado. Ao fundo, a música que está no topo das paradas toca em média altura. O dono do boteco tenta iniciar uma conversa e diz que o cantor em questão tem uma voz muito bonita e que ficaria muito feliz se um dia pudesse conhecê-lo pessoalmente.
Para a surpresa dele, o cliente disse: “Pois não!”
O dono do boteco ficou sem entender nada, mas como o homem demonstrava não querer muita conversa, preferiu não insistir.
Minutos depois, outro homem entra no boteco. Ele também pede café e diz para o primeiro cliente preparar o carro. O dono do boteco olha tudo de longe e reconhece:
–Você não é esse cantor que está estourando de sucesso com a sua voz brilhante?
– É o que estão dizendo por aí. – o homem responde demonstrando modéstia.
– Puxa, sou seu fã!!! Fico muito feliz por estar no meu pequeno estabelecimento. Aqui, não paro de tocar as suas músicas. A sua voz é muito bonita, realmente!
– Muito obrigado! – retruca o homem.
– Se não for incomodar, você poderia me dar um autógrafo?
Neste momento, o homem fita bem os olhos do dono do boteco e responde:
– Claro que posso! Eu não disse que um dia você me pediria um autógrafo?
Para refletir
Você pode ser considerado um louco por sonhar o que parece ser impossível. Mas, se acreditar nele e não deixar que os outros o apaguem com banhos de água fria,  não se surpreenda quando se tornar realidade.
FONTE

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