10 por cento de portugueses já leram a Bíblia completa, indica estudo 93% dos evangélicos possuem as Escrituras Sagradas em casa. Católicos não-praticantes, ateus e agnósticos são quem menos leem.
A maior parte dos portugueses já leu a Bíblia - toda ou em partes - mas os católicos não-praticantes e os ateus e agnósticos são os que menos leem o texto sagrado de judeus e cristãos. As conclusões constam de um estudo encomendado pela Sociedade Bíblica Portuguesa (SBP), editora que se dedica ao estudo e difusão da Bíblia, à Novadir, empresa do grupo Marktest.
Se aquelas três categorias sócio-religiosas estão juntas neste índice de leitura, há mesmo assim uma diferença substancial: são 37 por cento os católicos não-praticantes e 36 por cento os agnósticos que não lêem a Bíblia, enquanto no caso dos que se definem como ateus (10 por cento dos inquiridos) esse número sobe para os 65 por cento.
Numa outra resposta, entre os que nunca leram, apenas 17 por cento dizem que não o irão fazer em nenhuma circunstância. O que pode indiciar algum preconceito contra o texto, nota Alfredo Abreu, responsável da Sociedade Bíblica e da apresentação do estudo, feita ontem em Lisboa.
Entre quem diz que lê a Bíblia (71 por cento dos inquiridos), há 9,7 por cento de pessoas que dizem já ter lido todo o texto. As mulheres (74 por cento) fazem-no mais que os homens (67). E em termos religiosos, os protestantes/evangélicos e as testemunhas de Jeová são os que mais lêem o texto: todos dizem que o fazem. Na categoria dos católicos praticantes, 83 por cento dizem que lêem a Bíblia.
Protestantes/evangélicos e testemunhas de Jeová representam apenas 2,3 por cento da população. Mas são também eles que lideram quando se pergunta quem tem uma Bíblia em casa: 93 por cento dos protestantes e evangélicos, 100 por cento entre as testemunhas de Jeová.
A sondagem identificou 86 por cento da população como católica, metade da qual não-praticante, número que coincide com outros estudos recentes.
Esquecimentos?
Apesar dos números, é provável que nem toda a gente tenha identificado outras ocasiões em que lê ou ouve ler a Bíblia. Perguntados sobre locais em que lêem, só 14,7 por cento das pessoas diz que o faz na igreja ou em lugares de culto. Mas quer na missa católica, quer nos cultos protestantes e evangélicos ou ainda nas assembleias das testemunhas de Jeová são sempre lidas várias passagens bíblicas. Um esquecimento?
"Provavelmente, as pessoas não identificam o facto de ouvir ler o texto em voz alta na missa ou no culto como leitura da Bíblia", adianta Alfredo Abreu. A casa (79 por cento) é o local onde as pessoas mais lêem a Bíblia. A seguir, muito longe, está a catequese (18 por cento).
Quanto ao ritmo de leitura, a maior parte (56 por cento) das pessoas que lê só o faz ocasionalmente, enquanto sete por cento lê o texto todos os dias. E há quem diga que não lê a Bíblia por falta de tempo (19 por cento entre os que nunca leram).
Meio milhão
Os responsáveis da Sociedade Bíblica querem agora que os números deste inquérito, o primeiro do género em Portugal, possam ser trabalhados e cruzados nas diferentes variantes. Até porque verificam, pelas iniciativas que têm promovido nos últimos anos em Portugal, que há um interesse à volta da Bíblia que talvez nunca tenha existido no país.
Na Bíblia Manuscrita, iniciativa que em 2004 pôs cem mil portugueses a copiar o texto bíblico à mão, em exposições e em outras iniciativas, a editora calcula em cerca de meio milhão o número de pessoas envolvidas. Mais de 60 concelhos, cerca de 400 escolas, além de bibliotecas públicas, hospitais e três dezenas de autarquias colaboraram ou pediram à Sociedade Bíblica a organização de iniciativas relacionadas com a Bíblia. Na maior parte dos casos, trata-se mesmo de entidades não-religiosas, diz Alfredo Abreu.
O responsável da editora dá alguns exemplos: em Portugal, a SBP calcula em cerca de 100 mil exemplares da Bíblia vendidos anualmente, nas diferentes edições existentes. Só as Sociedades Bíblicas Unidas vendem 400 a 500 milhões de bíblias por ano, em todo o mundo. E osite www.biblegateway.com, um dos mais conhecidos na utilização da Bíblia e onde podem ser consultadas muitas versões e traduções diferentes, tem oito milhões de visitas por mês.
O inquérito da Novadir foi realizado entre 28 de Agosto e 13 de Outubro do ano passado. A amostra é constituída por 1618 indivíduos, com idades compreendidas entre os 15 e os 75 anos, que representam a população de Portugal continental e que foram inquiridos por entrevista pessoal ou telefone.
Fonte: Jornal Público
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