Por Elliana Garcia
Constance Briscoe nasceu em Londres, Inglaterra, em 18 de maio de 1967. Desde pequena sempre sofreu maus tratos de sua mãe biológica, o que a levou a ter problemas de enurese (fazia xixi na cama). E quanto mais o problema se manifestava, mais ela apanhava. Constance nunca entendeu porque sua mãe tratava seus outros irmãos com carinho e só ela era motivos de surras e torturas, o que lhe deixou marcas não apenas no corpo, mas na alma.
Seus pais se separaram e ela não obteve respaldo de nenhum dos dois. Só se deu conta do quanto sofria quando, ao chegar em casa com uma foto que tirara na escola, ouviu sua mãe dizer: “Como você é feia, feia, feia.”
As palavras carregadas de ressentimento e provocação ecoaram em sua mente durante muito tempo.
Aos 11 anos de idade, procurou a assistente social de um abrigo para menores. Preferia viver num abrigo a morar com a família. Diante da negativa do serviço social, que não acreditou em suas palavras, voltou para casa e tentou o suicídio, tomando alvejante. “Como eu era chamada de germe, essa foi uma alternativa que encontrei. Quem sabe assim, minha dor teria um fim”.
Mas Constance sobreviveu e continuou sendo alvo de violências físicas. Ela desenvolveu caroços nos seios, por conta dos beliscões nos mamilos que sofria de sua mãe. Aos 13 anos, fez uma cirurgia para a retirada dos nódulos e passou 7 dias hospitalizada sem receber a visita de nenhum familiar.
O pós-operatório não foi fácil e ela teve que ficar em casa durante muito tempo. Foi quando passou a assistir uma série norte-americana que enfocava o dia a dia de um tribunal de justiça. A garota jurou para si mesma que seria advogada.
Levando surras da mãe e sendo agredida pelo padrasto, aos 12 anos parou no tribunal e pediu ao juiz que a mandasse para um abrigo, mas não foi aceita. Ninguém acreditava que ela sofria torturas físicas e psicológicas. Ela teve seus braços cortados com facas pela própria mãe e a cabeça ferida por uma paulada por seu padrasto, fora os socos e pontapés que levava no estômago.
Aos 14 anos, foi abandonada pela mãe à própria sorte. Foi deixada em casa, sem água, luz ou comida. Sua mãe retirou a sua cama, travesseiros, cobertores e ela, por muitas vezes, teve que dormir em cima de casacos e roupas, isso durante o inverno londrino.
Além de todo o sofrimento, Constance tinha que lidar com outro problema, que afetava sua autoestima: ainda na infância seus cabelos caíram, sem nenhuma explicação. Para esconder a calvície, ela utilizava uma peruca, mas até essa peruca a mãe dela queimou, num acesso de raiva.
Trabalhava como faxineira para poder se sustentar e desse pouco que tirava a mãe cobrava o aluguel da casa que não tinha luz, gás e água.
Mas, apesar de todos os problemas, era dedicada aos estudos, pois sabia que através deles poderia mudar de vida. Uma de suas professoras, sabendo do seu sonho, disse-lhe: “Nunca desista. Seja o que for que você deseje, você consegue se quiser.”
Em 1979, ela conseguiu uma bolsa de estudos e entrou na universidade. Antes, porém, foi falar com a mãe e disse-lhe que era a última vez que falava com ela. Não havia por que se relacionarem se ela sempre foi odiada. Foi a última vez que mãe e filha se falaram.
Mudança
Em 1983, Constance enfim se formou em direito. Em 1996, tornou-se juíza e a primeira mulher negra a presidir um tribunal no Reino Unido.
Casou, tem dois filhos, e disse que jamais utilizou de violência com eles, que prefere dar-lhes todo amor. Além disso, tem um casamento estável e feliz com o marido Tony Arlidge, que faz parte do Conselho da Rainha da Inglaterra.
Clare, como é chamada, não deixou que as dores do passado determinassem o seu futuro. Preferiu trocar o ódio pela felicidade. Para mostrar seu exemplo de superação das adversidades, escreveu o livro “Feia”, que já vendeu mais de meio milhão de cópias em todo o mundo. Ela, no entanto, foi processada por difamação pela mãe. O júri reconheceu a veracidade da autobiografia através de relatos médicos e testemunhos.
A menina, que foi vítima de quem deveria protegê-la e que não recebeu nenhum respaldo do Estado, decidiu fazer da Justiça não apenas um trabalho, mas um caminho para que outras pessoas não sejam vítimas de injustiças.
Constance transformou sua história em um exemplo de vida. Colocou um ponto final nos traumas do passado, visualizou para si um futuro cheio de perspectivas e colhe no presente o fruto de escolhas acertadas. A escolha pela felicidade.
FONTE: ARCA UNIVERSAL
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