“Cordel encantado”, de Thelma Guedes e Duca Rachid, se apresentou de uma maneira diferente. O desenho clássico de um capítulo de estreia é horizontal, com os diversos personagens sendo expostos um a um numa trama que vai se abrindo como um leque com seus núcleos variados. Aqui, foi o contrário. Tudo começou nas remotas Seráfia (reino europeu fictício) e Brogodó (no Sertão). Aos poucos, as autoras traçaram a ligação improvável, mas convincente, entre as duas pontas. Coerente e lógico, ao mesmo tempo fantástico, o folhetim foi caminhando para um só cenário, até se fechar em Brogodó.
A novela lembra um conto de fadas, faz referências literárias, à História, a filmes famosos e neste ponto é até bem pop. A vilã de Débora Bloch (Úrsula, como a bruxa de “A pequena sereia”), por exemplo, vive seu momento de Carlota Joaquina ao partir de Brogodó depois de bater o sapato para “não levar nem um grão de areia desta terra”. Em outra cena, ela extraiu confissões de seu parceiro Nicolau (Luiz Fernando Guimarães), à custa do “soro da verdade”. No mais puro estilo Jack Bauer, e alusivo aos filtros de amor de “Tristão e Isolda”.
“Cordel encantado” não tem apenas uma história boa, saborosa, uma fábula cativante até dizer chega. Sua realização também merece todos os elogios. O uso da câmera F35 nas sequências tanto da França quanto em Sergipe fez a diferença, atribuindo à imagem textura e qualidade especiais. Amora Mautner (diretora-geral) e Ricardo Waddington (diretor de núcleo) mostraram sensibilidade para viajar num projeto que exige muita criatividade e ao mesmo tempo pede muita atenção para os detalhes. Cenários, figurinos, luz, tudo é impecável.
O elenco está cheio de talentos. Débora Bloch e Luiz Fernando Guimarães roubam cenas. Mas, nestes primeiros dias, também não ficaram atrás Carmo Dalla Vecchia, Bianca Bin, Zezé Polessa, Nathalia Dill, Marcos Caruso, Osmar Prado, Domingos Montagner, Cauã Reymond, Matheus Nachtergaele, Mariana Lima, Berta Loran, Tuca Andrada, Cláudia Ohana, Luana Martau e Mouhamed Harfouch. A única nota dissonante é a volta ao ar de quem acabou de sair (exemplos: Bianca Bin, Cauã Reymond e Bruno Gagliasso). Isso precisa ser repensado pela Globo. “Cordel encantado” promete e muito.
FONTE: PATRICIA KOGUT
Nenhum comentário:
Postar um comentário