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quinta-feira, 23 de maio de 2013

'Dona Xepa' aposta na ingenuidade e acerta na escalação da protagonista

ângela Leal em cena do primeiro capítulo de 'Dona Xepa' (Foto: Munir Chatack/ Record)

Estreia de anteontem, “Dona Xepa” — novela escrita por Gustavo Reiz inspirada na peça de Pedro Bloch, com direção geral de Ivan Zettel — aproximou, mais que nunca, a Record de um modelo praticado pelo SBT. A personagem central, como se sabe, é uma brava batalhadora feirante. Com o suor da sua testa, depois de abandonada pelo marido, criou os dois filhos, Rosália (Thaís Fersoza) e Edson (Arthur Aguiar), e, desprovida de malícia, acredita piamente no caráter deles. A dupla, longe de ser valorosa como a genitora, ao contrário, se envergonha dela. É, em suma, uma trama popular e com grande dose de ingenuidade, típica das que se viu ad nauseam na emissora “para a família” de Silvio Santos. Diferentemente do que aconteceu em produções anteriores, quando a Record se autoproclamava “a caminho da liderança”, não há aqui a ambição de alcançar o público que está em busca de alguma novidade ou mesmo de uma história um pouquinho mais intrincada.
“Dona Xepa” se desviou também da convicção antes inarredável da direção da Record de que a violência é um fator imprescindível para impulsionar qualquer produto de teledramaturgia. O capítulo correu sem um tiro, uma cena de perseguição, nada do gênero. A direção de Zettel foi firme, a cenografia e os figurinos estavam corretos, e a qualidade técnica, idem. O capítulo fez o que se esperava, apresentou ordenadamente os personagens e a história. Tudo isso sem sambar entre estilos diversos e estranhos, como fazia sua antecessora, a sofrível “Balacobaco”.
Ângela Leal foi uma escolha sem erros para a personagem-título. Mesmo com todos os clichês que envolvem a feirante — incluindo aí aquele sotaque dos bairros populares de São Paulo —, ela se saiu bem na estreia. O desafio foi grande: era preciso não temer o estereótipo, ao contrário, cair nele. E ainda assim “ser” uma Dona Xepa com características próprias, já que a história já foi encenada no teatro e na televisão (na novela da Globo de 1977, escrita por Gilberto Braga e com Yara Cortes). Outras boas presenças da noite foram Bia Montez (Matilda, rival de Xepa na feira), Benvindo Siqueira (Dorivaldo) e Gabriel Gracindo (François). Aracy Cardoso, a Alda, é uma promessa, ainda, já que apareceu rapidamente em uma única cena. Thaís convenceu como a vilãzinha que sonha ver a pobreza pelas costas e para isso seduz o chefe. Juan Alba, o objeto de desejo da moça, protagonizou o grande momento de canastrice do capítulo ao dar uma abaixadinha nos óculos escuros e franzir a testa antes de embarcar num helicóptero.
O troféu Caricatura d’Or da noite foi para Luiza Tomé. A atriz surgiu irreconhecível com uma inacreditável peruca, como Meg Pantaleão, uma socialite ricaça e afetada, que repete bordões como “adoooooro!”. Ela é seguida de perto por Lady (Ana Zettel), uma espécie de secretária e assessora para assuntos gerais. Uma longa e constrangedora cena reuniu a dupla e Ittala Nandi num debate sobre figurino.
No geral, “Dona Xepa” pareceu uma produção para as 18h. Com exceção de uma sequência de sexo com Pérola Faria (Yasmin) e Aguiar, a água com açúcar dominou. Não só ela; a gritaria tomou conta da estreia. O princípio da linguística que reza que a linguagem pode expressar perfeitamente uma forma consignável ficou plenamente comprovado nas cenas da feira. Nunca a gíria “barraqueira” fez tanto sentido quanto nos embates dos fruteiros com os fiscais que ameaçavam com a remoção. A berraria se intensificou com a chegada à feira da rebolativa mulher-fruta Robertha Portella.
Se não ousaram nem inovaram, serviram um prato honesto e simples.
FONTE: PATRICIA KOGUT

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