Pela primeira vez, a televisão cedeu para a internet a primazia na exibição de uma cena-chave de teledramaturgia. Tudo isso sem emulação. Foi com o clipe “Vida de empreguete”, apresentado primeiro na internet (no sábado) e só bem depois (na segunda-feira) em “Cheias de charme”, novela das 19h da TV Globo. O fato não representou apenas um passo inédito para a teledramaturgia. Significou uma movimentação nunca operada pela própria emissora.
A ousadia logo se revelou um acerto e com ganhos para ambas as mídias. Assim que acabou o capítulo de sábado e o vídeo “caiu” na rede, a home da Globo.com recebeu uma explosão de visitas. Em 24 horas, eram nada menos que 4 milhões de cliques. O ritmo vertiginoso de acessos foi ainda mais intenso do que o que sucede ao convite de Pedro Bial para o público votar no site do “Big Brother”, um notório campeão de visitações.
“A internet é um personagem da trama. E o internauta, quando reproduz o clipe, criando memes, passa a difundir e viralizar conteúdo para a novela”, diz Filipe Miguez, coautor com Izabel de Oliveira. Basta dar uma busca na rede para conferir essas inúmeras versões do clipe de autores anônimos a que ele se refere.
É tudo encadeado. “Cheias de charme” também retrata um tema novo para os folhetins: o franco acesso das camadas populares aos meios de produção de conteúdo. Trocando em miúdos, não é mais preciso grande aparato nem conta no banco para se produzir um clipe. É o que fez prosperar — fora do esquema das gravadoras — gêneros musicais como o tecnobrega, o funk carioca e o kuduro. O enredo desse folhetim, portanto, não existiria sem a própria web.
“Cheias de charme” entrará para a história como a primeira novela que conseguiu fazer o que era até então privilégio exclusivo do “Big Brother”: multiplicar sua existência para além do seu horário de exibição. Além da interseção de mídias, ela tem um enredo que se confunde com a própria vida real do espectador. A campanha #empregueteslivres, que chegou aos trending topics do Twitter essa semana como se tudo isso não fosse ficção, é outra prova. Parece que inventaram a fórmula que todos buscam há tempos. Vamos prestar atenção.
FONTE: PATRICIA KOGUT
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